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Brasil quer mais “especialistas em gente” na atenção básica

26/08/2015

Brasil quer mais “especialistas em gente” na atenção básica

Com a atenção primária cada vez mais fortalecida no Sistema Único de Saúde (SUS), a demanda por médicos especialistas em Medicina Geral de Família e Comunidade (MGFC) está ainda maior. Por isso, o Programa Mais Médicos vem promovendo ações para aumentar o número de profissionais com essa especialidade no Brasil. O desafio é grande. Existem poucos médicos de família e comunidade em atuação e os estudantes ainda estão descobrindo os encantos dessa especialidade. 

“Os médicos de família e comunidade são, na verdade, ‘especialistas em gente’”, brinca o diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Eduardo Alves. Isso, porque o médico com essa especialidade é capacitado para atender pessoas de todas as idades e gêneros, com os mais diversos problemas de saúde, tendo como abordagem principal a construção de um vínculo duradouro e a compreensão do indivíduo em seu contexto social e familiar. “Se a gente se coloca no lugar do paciente, rapidamente pensa como é bom poder ter alguém de referência, um profissional que tira nossas dúvidas, que conhece o nosso histórico”, comenta Alves.

O diretor lembra que muitos pacientes dos sistemas privado e suplementar recorrem diretamente a vários especialistas e, muitas vezes, falta um profissional que articule esses atendimentos e consolide as orientações ao paciente, sendo capaz, por exemplo, de observar as diversas medicações prescritas por diferentes profissionais para que não haja problemas com a interação entre os medicamentos. “Essa é uma queixa de muitas pessoas, que têm acesso a um conjunto de procedimentos, mas, efetivamente, não se sentem cuidadas”, explica.

Uma especialidade ainda pouco conhecida
A Medicina Geral de Família e Comunidade encontra um vasto campo de atuação nos setores público e privado. Somente no SUS, existem cerca de 39 mil equipes de Saúde da Família (eSF), nas quais a atuação do médico de família e comunidade é fundamental. No entanto, a especialidade ainda é pouco reconhecida pelos estudantes e pela população em geral. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), anualmente, cerca 15 mil estudantes concluem a graduação em medicina e aproximadamente 400 buscam se especializar em MGFC. Estima-se que haja cerca de cinco mil profissionais com essa especialidade em atuação no país, o que equivale a algo em torno de 1% dos médicos brasileiros. Em países que começaram a estimular a difusão dessa especialidade há mais tempo, como Espanha ou Austrália, essa proporção se aproxima dos 30%. “Já se nota um interesse maior, especialmente com a entrada de professores de MGFC nas universidades, que têm mostrado aos alunos o que é ser médico de família. Acreditamos que esse é o primeiro passo para despertar o interesse pela atenção primária”, afirma o presidente da SBMFC, Thiago Trindade.

Para a pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Helena Eri Shimizu, o grande desafio da Medicina Geral de Família e Comunidade é ser pouco conhecida entre os estudantes de medicina. “A hiperespecialização atrai muito mais o jovem médico. Existe o mito de que a atenção básica é simples, mas o profissional tem que ter uma boa formação clínica”, comenta Shimizu. Segundo a pesquisadora, a literatura acadêmica mostra que um maior tempo de exposição do estudante às práticas e vivências da atenção básica é determinante para a escolha da especialidade.  

Em geral, os especialistas afirmam que essa exposição deve ocorrer logo no início da graduação. Exemplo disso é Maria Eduarda Spencer, aluna do quarto período do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no campus de Caruaru, no interior do estado. Lá, os alunos atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e fazem visitas domiciliares desde o início da graduação. “Estou num curso que se propõe não só a formar médicos, mas a melhorar as condições da comunidade. Isso reflete num atendimento mais centrado na pessoa, desde quando a gente pisa na comunidade até tocar na pessoa que busca ajuda e ver que, às vezes, ela não está buscando só a solução para uma dor”, conta Maria Eduarda, que ainda não se decidiu quanto à especialidade que deseja seguir.

Mudança na formação de especialistas
No dia 19 de agosto, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciou o Plano Nacional de Formação de Preceptores, medida que integra o Mais Médicos e tem o objetivo de aumentar o número de profissionais capacitados para atender os programas de residência em MGFC. A expectativa é formar mais 10 mil preceptores até 2018, chegando a 14,2 mil profissionais. Com essa ação, o governo federal vai garantir, no mínimo, um preceptor para cada três residentes, que é um dos requisitos exigidos para abrir novas vagas de residência. 

A universalização da residência médica faz parte das ações do Mais Médicos, que estabeleceu, até 2018, a meta de uma vaga de residência para cada médico formado. Mas o programa não para por aí. A Medicina Geral de Família e Comunidade, além de integrar a relação de especialidades de acesso direto, também passa a ser pré-requisito para todas aquelas especialidades que não são de acesso direto. Assim, caso o médico queira fazer residência em ortopedia ou anestesiologia, por exemplo, terá que cursar um ou dois anos de residência em MGFC, conforme a especialidade em questão. Com essas medidas, o sistema educacional formará mais médicos de família e comunidade e levará os demais especialistas a ter essa referência em sua formação. 

“Com as mudanças implementadas pelo Mais Médicos, a medicina de família e comunidade terá uma expansão bastante expressiva no Brasil nos próximos anos”, afirma o diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Eduardo Alves.

 

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